Uso de Máscaras X Exercício Físico

Olá leitores, tudo bem?

Este post tem como objetivo esclarecer algumas dúvidas em relação ao uso de máscaras e a realização de exercícios físicos. Todas estas recomendações são orientações da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).

É importante ressaltar que pessoas ativas, especialmente os idosos, devem ser incentivados a tentar manter seus exercícios físicos, mesmo que sejam necessárias algumas adaptações quanto a locais de prática ou contatos pessoais, procurando sempre prestar atenção às orientações dos órgãos oficiais de saúde.

Também de acordo com as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde do Brasil (MSB), que são endossadas (ou seja, apoiadas) pela SBMEE, deve-se evitar estar em locais fechados, com grande número de pessoas ao mesmo tempo. Desta forma, a ida a academias, clubes esportivos e similares, onde esta situação de aglomeração ocorra, deve ser evitada por todos.

A prática de exercícios ao ar livre deve respeitar as recomendações da OMS e do MSB de evitar contato próximo de outras pessoas e obedecer a etiqueta respiratória e higiênica. Na presença de sintomas e sinais compatíveis com infecções respiratórias como febre, tosse, dispneia (falta de ar), a prática de exercícios deve ser suspensa.

Vamos lá a algumas dúvidas e respostas:

1-É necessário o uso de máscaras durante a prática de exercícios ao ar livre e em academias?

Nesses tempos de pandemia, o uso de máscaras no ambiente social está sendo preconizado por diversas entidades de saúde, incluindo a OMS, para reduzir a possibilidade de propagação da COVID-19. Em especial, nas localidades onde está decretada a obrigatoriedade do uso de máscara, em ambientes públicos, desde que a prática de exercícios físicos ao ar livre e/ou em academias esteja liberada pelo poder
executivo, deve-se usá-la ao exercitar fora de casa, até pela necessidade de cumprimento de uma determinação legal. Portanto, se você mora numa localidade que se enquadre nesta situação, a máscara deve ser usada, tanto nas práticas esportivas ao ar livre, quanto
em academias.

2-O uso de máscara atrapalha o rendimento durante a prática de exercícios físicos?

Ao se utilizar uma máscara facial, estamos colocando uma barreira física entre nossa via respiratória e o ar ambiente. Isto irá criar uma dificuldade maior para fazer a mobilização do ar, tanto na inspiração quanto na expiração, que pode variar conforme o material usado na confecção da máscara (de modo geral, quanto mais espesso, maior a dificuldade). Em função disso, é necessário um esforço aumentado da musculatura ventilatória, levando a um maior desconforto respiratório para se realizar um mesmo nível de atividade e, consequentemente, o rendimento no exercício pode ser prejudicado.

3- É verdade que a máscara úmida perde eficiência na proteção?

A máscara perde efetividade quando fica úmida ou molhada, situação que vai ocorrer bem mais fácil e rapidamente com o exercício (tanto pela transpiração, quanto pelo aumento do fluxo de ar através da mesma). Além disso, durante a prática, a maior movimentação aumenta a chance de desajustes da máscara em relação ao nariz e boca, exigindo um manuseio mais frequente e contraindicado, por possibilitar a contaminação da própria máscara. Por isso, o ideal é que, ao sair para praticar exercícios, se levem algumas máscaras adicionais, para serem trocadas com maior frequência, à medida que vão ficando úmidas ou tenham sido manuseadas erroneamente.

4- Procede que o uso de máscara durante exercício físico pode ser perigoso (e fazer mal), pelo fato de respirarmos o ar expirado que acaba ficando “preso” nela e, portanto, com muito gás carbônico?

Não há consistência na hipótese de que, com a máscara, se “retém CO2” (o ar que soltamos) e que esta suposta retenção e sua consequente reinalação traria riscos à saúde do usuário praticando exercícios. Embora a máscara seja uma relativa barreira para a respiração, a permuta de gases inspiratórios e expiratórios ocorre, com uma eventual retenção de CO2, entre ela e o rosto, sendo pequena e insuficiente para provocar um desequilíbrio importante no processo de trocas gasosas pulmonares. Em resumo, a máscara pode trazer certo desconforto respiratório e relativa perda de rendimento  mas não coloca em risco a saúde do usuário que deseja praticar exercícios físicos.

5- Vi na internet que a máscara pode provocar aumento importante da temperatura corporal, mesmo em intensidades moderadas de treino aeróbio. Preciso me preocupar com isso?

O aumento significativo da temperatura corporal (“hipertemia”) pode ser potencializado pelo exercício físico. Logicamente, a intensidade e o volume de treino, além das condições ambientais, como temperatura e umidade do ar elevadas (que dificultam a perda de calor interno para o ambiente, via evaporação do suor), potencializam esse fenômeno. Trabalhos que estudaram esse efeito mostraram que há um óbvio prejuízo
dessa troca térmica na região da face coberta pela máscara. Entretanto, essas pesquisas também citam que isso não é significativo, na grande maioria das pessoas praticando exercício. Primeiramente, porque a superfície afetada é proporcionalmente pequena, como restante da superfície corporal podendo dar conta desse processo. Uma situação lembrada nestes estudos, e que pode inspirar maior cuidado, é quando o praticante também estiver usando roupas protetoras “selantes”, vedando a exposição de grande superfície do corpo, o que naturalmente vai dificultar o processo de controle térmico corporal.

6-Tenho visto controvérsias sobre máscara no exercício físico ao ar livre ou em academias, como desconforto, maior fadiga, umedecimento precoce etc. Existem máscaras próprias para treinos?

A princípio, máscaras foram feitas para proteção, como é o que ocorre nessa atual pandemia, e não para fazer exercícios. Portanto, embora causando potenciais desconfortos e dificuldades, seu uso traz um efeito protetor cientificamente reconhecido. Empresas ainda estão procurando encontrar materiais e modelagens que possam ser melhor aceitas pelos praticantes de exercícios físicos, e testagens estão ocorrendo, para que o usuário possa ter à sua disposição um produto adequado. No momento, o mais importante é tentar encontrar máscaras com as quais o praticante venha a se adaptar adequadamente, mas que tenham o melhor equilíbrio entre proteção (filtragem) e
respirabilidade. Geralmente, máscaras muito finas facilitam a respiração, mas seu efeito protetor tende a ser mais baixo. Testes mostram que máscaras de TNT de qualidade têm boa filtragem e respirabilidade, mas são descartáveis, não podendo ser reutilizadas. Já as de Neoprene, que têm a vantagem de serem laváveis e impermeáveis, também podem oferecer boa proteção, mas com nível de respirabilidade comparativamente bem mais baixo. As de algodão são laváveis, mas molham com mais facilidade durante o exercício,
tendo índices de proteção mais baixos que as anteriores, além de respirabilidade menor que as de TNT, dependendo de suas camadas e espessura. Por fim, as máscaras “hospitalares”, como a N95, são as que possuem o maior poder de filtragem, mas com respirabilidade também considerada baixa (compreensível, já que, para um ambiente hospitalar, é o nível de proteção o que prioritariamente importa, mesmo trazendo uma certa resistência à respiração).

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